Os nomes dos filmes

O Público de 30 de Agosto trazia uma crónica muito engraçada da autoria de Nuno Pacheco, sob o título O nome dos filmes. No pequeno mas bem documentado texto o jornalista dissertava, com abundância de exemplos, sobre a diversidade das traduções dos títulos dos filmes, em países diferentes, que se presta muitas vezes a confusões.

O caso mais delicioso, de entre os referidos, é o do A Hard Day's Night, peliculazinha interpretada pelos Beatles, que em Portugal recebeu o título (adjetivado por Nuno Pacheco como um "sofisticado delírio") de As Quatro Cabeleiras do Após Calipso. Gostaria de saber o que o tradutor andava a fumar na altura…

Achei o artigo curioso principalmente porque este problema dos nomes dos filmes é um dos com que me debato regularmente aqui no blogue. Sempre que tenho de referir um filme num artigo hesito sobre a forma a adotar: o título original? O nome com que foi exibido em Portugal? Uma dessas referências (seguida da outra entre parênteses)?

Por exemplo, incomoda-me chamar o Citizen Kane de O Mundo a seus Pés; mas por outro lado não me soa natural referir-me a Os condenados de Shawshank como The Shawshank Redemption (um título bastante infeliz e que deve ter contribuído para o relativo insucesso desse excelente filme aquando do seu lançamento em sala).

A minha solução, até ao momento, tem sido aquilo que eu designaria como incoerência instintiva; ou seja, escrevo o que me lembro na altura e me parece mais adequado ao filme em causa. Acredito mesmo que, num momento ou outro, possa até ter inventado algum nome, traduzindo literalmente o título original para português.

Apesar deste blogue não pretender ser uma referência de rigor jornalístico, e de nunca me ter dado ao trabalho de fazer um Manual de Estilo para os meus textos, acho que poderia/deveria ser um pouco mais cuidadoso em alguns aspectos, sendo esse um deles.

O que me leva a colocar três questões aos leitores, uma de opinião e duas de informação. Espero que, uma vez mais, sejam generosos nas vossas respostas:

  1. Que forma deveria usar preferencialmente para me referir a filmes estrangeiros?
  2. Onde posso encontrar, se é que essa fonte de referência existe, os nomes com que os filmes foram exibidos em Portugal? E já agora – seria a cereja no bolo – as suas datas e locais de estreia em Portugal?
  3. Alguém conhece um Manual de Estilo para escrita de blogues (em português ou "estrangeiro") que eu possa consultar e, eventualmente, adotar?

Aguardo ideias e opiniões, e agradeço desde já.

12 thoughts on “Os nomes dos filmes”

  1. André Correia

    Olá! A única informação que agora me lembro para poder partilhar é que a versão portuguesa do site IMDB contém os títulos dos filmes (não todos, mas a esmagadora maioria) com a tradução com que foram exibidos no nosso país. Quanto à forma como referir um título dum filme estrangeiro aqui no blog, parece-me que a maneira até agora utilizada e referida por si não tem sido merecedora de nota negativa. É muito complicado dizer qual a forma mais adequada, pois, tal como o João mencionou, há títulos que soam melhor na língua original mas outros nem tanto.

  2. Tal como o André Correia disse, a melhor opção é, sem dúvida, o IMDB (tanto na versão portuguesa, como na versão original). Sendo certo que não é possível encontrar o título português de todas as obras na versão pt, na versão original, é sempre possível encontrar a data de estreia em Portugal. Desconfio que o sistema deve funcionar um pouco como um motor de pesquisa: identificando a localização do pesquisador através do seu ip fornece as informações mais adequadas. Não sou especialista em informática mas, por observação, parece-me ser isso que acontece.
    Quanto à forma de referir os filmes, eu conheço muitos filmes só pelos seus títulos originais, mas o mesmo não acontece com o público em geral. E quando falo em títulos originais, falo quase apenas de anglo-saxónicos. Para não causar confusão entre nenhuma das partes, o ideal seria o título original, seguido do título em português sempre que o haja; caso o filme não tenha sido editado em Portugal, ou optar pelo título brasileiro (que costumam ser mais à letra do que os nossos) ou improvisar um título próprio.
    Uma outra solução é ilustrar o artigo com a capa ou uma foto do dito filme. Talvez por aí os leitores fiquem elucidados sobre que filme se está a falar.

  3. Concordo com o comentário anterior. Por consultar diariamente o IMDb, eu conheço os filmes mais facilmente pelo título original. Mas numa era como a nossa, com motores de busca na ponta dos dedos, qualquer título mencionado que eu não reconheça de imediato, fica pouco tempo incógnito, e certamente que os restantes leitores deste blog fazem o mesmo. Quanto à tradução correcta para português, o IMDb também não me tem falhado, como foi recentemente com Inception. Eu não sabia mesmo como é que se chamava em português mas uma breve consulta à base de dados (que também tem a informação das datas de estreia) revelou que por cá se chamava A Origem, e aí já toda a gente percebeu de que é que eu estava a falar…

  4. Caro João,
    A questão do instinto imediato para escolher entre título original e em português parece-me óbvia e natural. O importante é sabermos, no fim, de qual filme estamos a falar. Lembro-me de repente de dois títulos menos felizes: nunca fui capaz de chamar ao “The Ring” o “O Aviso” (na minha modesta opinião o melhor filme de terror dos últimos anos) ou pior ainda chamar ao “Blues Brothers” original o seu título em português: “O dueto da corda”…
    Quantos de nós nos lembraríamos que o título em português do original “Planet of the Apes” era “O Homem que veio do Futuro”?

    Abraço a todos!

  5. Antes de mais, parabéns pelo blogue/site, que ainda não tive tempo para explorar na totalidade, visto que apenas hoje (em boa hora) o encontrei.
    Penso que a sua forma de se referir aos filmes é compreensível. Quem quiser saber mais pode fazer esse trabalho de busca.
    Quanto a um Manual de Estilo, penso que os blogues não o devem ter, pois como espaço pessoalíssimo que são (é assim que os vejo, como a casa ou a sala de estar de cada um), cada pessoa é livre de se expressar como achar mais conveniente. No entanto, para esclarecer dúvidas concretas relativas à nossa língua, o Livro de Estilo do Jornal Público soluciona algumas, sendo o meu preferido o Prontuário Ortográfico da Língua Portuguesa, de Magnus Bergström (já para não referir outros instrumentos, como dicionários).
    Mais uma vez, muito obrigada pelo seu trabalho.
    Cumprimentos
    Adriana Nogueira

  6. Miguel C Nunes

    Outro dos problemas associado à tradução sempre “liberal” do nome do filme para português, é o resultado perverso que tem nos filmes que por esse nome deviam ser traduzidos, aqui vai um exemplo se “Lost in Translation” se chama em português “O amor é um lugar estranho” como é que se chamara um filme que tenha por nome “Love is a strange place” (talvez o traduzisse-mos por “Perdido na tradução” que reflecte bem o que acontece com uma larga maioria dos titulos dos filmes traduzidos para português).

  7. @Miguel C Nunes: é engraçado que eu lembro-me de isso já ter acontecido na televisão. A série americana “Soap” foi traduzida como “Tudo em Família”. Claro que quando chegou cá a série “All in the Family” tiveram de optar por outro título, “Família às Direitas” :D

  8. Pedro Costa

    Outro caso engraçado é o “knight and day”, que metade foi traduzido e a outra metade inventada… “Knight (cavaleiro) and day” ficou “noite e dia”… e noutros paises acontece o mesmo, por exemplo, o baywatch em frança é “alerta malibu”, o knight rider (o famoso kit) é o “k 2000”, e A-Team ficou “agência risco total”… não somos só nós que inventamos nomes engraçados mas eu por norma, nas conversas de café e tal, costumo usar o nome em inglês… mas de qq maneira dá para perceber qual o filme a que se refere…

  9. Olá, João! Seus artigos estão a cada dia melhores. Parabéns! Continue a presentear-nos com seu trabalho de grande qualidade. Uma ótima quinta-feira para voce. Edna.

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