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Perguntas & Respostas: como descrever uma câmara “amadora”?

    Olá João, tenho uma dúvida referente à formatação de um roteiro: em determinadas cenas quero a utilização de imagens em CÂMARA AMADORA. Como faço pra indicar ou descrever isso no guião? – Renan

    Olá Renan, em princípio a decisão da câmara ser amadora (uma definição que, aliás, é bem subjectiva) é da competência do realizador/diretor do filme, em parceria com o diretor de fotografia. Normalmente recomenda-se aos roteiristas que não se intrometam em assuntos de estilo ou direcção, concentrando-se na lógica, ritmo e sequência da estória, e nos comportamentos e evolução dos personagens.

    Mas suponhamos que você tem uma boa razão, intrínseca à estória e indispensável à dramaturgia, para querer que o trabalho de câmara tenha uma determinada característica – no seu exemplo, ser “amadora”.

    Nesse caso, e como não me canso de repetir em relação a todos os casos especiais, a única coisa que interessa é que a sua intenção fique bem evidente para quem ler o guião.

    A clareza é o essencial. Se os artistas que vão pegar em seguida na sua estória – o diretor, o diretor de fotografia, os atores, etc, – entenderem bem as suas intenções, saberão exactamente o que devem fazer para as tornar realidade. Caso contrário, se o objectivo não for claro, podem até entrar em rota de colisão. Ou, mais provavelmente, chamar-lhe uns nomes entredentes.

    Aplicando esse raciocínio à sua pergunta poderíamos ter algo como o seguinte exemplo:

    EXT. JARDIM PÚBLICO – DIA (CÂMARA DE SMARTPHONE)

    DO PONTO DE VISTA do smartphone de Ruben vemos Elisa a correr no imenso relvado, rindo do seu perseguidor enquanto se distancia com facilidade.

    ELISA

    Então, não me apanhas?

    RUBEN (O.S.)

    (ofegante)

    Se não abrandares, não...

    Elisa vira-se e corre de costas, desafiando-o com um sorriso provocador. Mesmo assim mantém a distância sem problemas.

    ELISA

    Vá! Só mais um esforço...

    A imagem treme quando Rubem tropeça e o smartphone mergulha em direcção à relva. Fica caído, de lado. A imagem mostra o ombro de Rubem no chão.

    Elisa debruça-se sobre ele, com expressão preocupada.

    ELISA

    Estás bem?

    Rubem abraça-a e rola sobre ela. Os dois saem do campo de visão da câmara.

    ELISA (O.S.)

    Safado!

    (risos)

    FIM DO PONTO DE VISTA

    Haverá muitas outras maneiras de descrever cenas como esta, que fogem um pouco aos parâmetros normais. Encontre aquela que se aplica melhor ao seu roteiro e aplique-a.

    E não se esqueça – é preciso ler o maior número possível de guiões para ver como guionistas mais experientes do que nós resolveram os mais diversos problemas de narrativa.

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